quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Diga Lá Meu Coração

Eu sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior, mas trago de cabeça uma canção do rádio, de um antigo compositor cearense (Belchior) que diz amar e mudar as coisas me interessa mais, porque a vida "realmente" quer dizer, a vida ao vivo é muito pior; e o amor é uma coisa mais profunda que uma transa sensual.
            Mas, para que se preocupar com isso se a vida é uma aventura da qual nós não sairemos vivos dela. Deixando a profundidade de lado eu quero ficar do teu lado, fazendo tudo e de novo e dizendo sim a paixão, morando na filosofia. Mas quando a vida nos violentar pediremos ao bom Deus que nos ajude, falaremos para vida, vida pisa de vagar meu coração. O meu coração é frágil, meu coração é como vidro, como beijo de novela. Mesmo assim você vai lembrar de mim, dos beijos que escrevi nos muros a giz, os mais bonitos continuam por lá, documentando que alguém foi feliz, "eu fui feliz" e por quase um segundo eu acreditei em nós dois.
Mas, tudo bem... Mesmo sem te ver acho até que estou indo bem, para ser sincero só um pouquinho infeliz, mas tudo bem... até a lua se arrisca no palpite de que o nosso amor existe: forte, fraco ou triste...As vezes me dá vontade de gritar que apaixonado eu sou, e meu pensamento só tem um momento de fugir em um disco voador... Vamos andar... Os filhos de Bob   Dylan, clientes da Coca-Cola, nós que fugimos da escola, voltamos todos para casa.
Uns queriam mandar bronca, outros, ser pedras que rolam aí “manei” entrou em cena e acabou tudo, e adeus caras bons de bola. Meu pai não aprova o que eu faço, tão pouco eu aprovo o filho que ele fez, sem sangue nas veias, com nervos de aço, dispenso o abraço que me dá por mês. Eu quero mesmo é que a minha voz saia do rádio e no alto falante, e que você possa me ouvir no quarto de pensão beijando um estudante.
 Para você que tem que trabalhar bastante escute e aprenda logo a usar toda essa dor, quem teve que partir para um país distante não desespere da aurora, recupere o bom humor. A solidão que dói dentro do carro, gente de bairro afastado onde anda o meu amor, e a noite em minha cama quando for deitar minha cabeça, eu quero ter daquela que me ama um abraço que eu mereça; e o amor quando trouxer a luz do dia, faça com que o sol apareça sobre a América do sul. Entretanto, não cante vitória antes do tempo, porque as lágrimas dos jovens são fortes como um segredo e pode fazer rejuvenescer um mal antigo. Vida, vento leve-me daqui...
  Dentro do carro sobre o trevo a cem por horas, só tenho agora os carinhos do motor, e tudo o que quero é só dançar para o meu corpo ficar odara, para ficar tudo jóia rara, rapte-me cama-leoa, adapte-me no seu ne me quitte pas. Pois, saiba que um home também chora menina morena, também deseja colo, palavras amenas, precisa de um abraço...É triste ver tanto meninos, tantos homens escravos de outros homens... Daqui eu vejo que eles sangram, se humilham, se matam, se morre se roubam o seu trabalho... Pois, está faltando emprego nesse meu lugar; eu voltar pro norte semana que vem Deus já me deu sorte, mas tem um, porém, não me deu a grana para eu pegar o trem. Preta, pretinha assim vou lhe chamar assim você vai ser.
Enquanto corria a barca eu ia lhe chamar, por minha cabeça não passava só, somente só assim vou lhe chamar; preta, pretinha. Abra aporta e a janela e vem vê o sol nascer, eu sou um pássaro que vive “avoando”, vivo “avoando” sem nunca mais parar... aiai !!! saudade não venha me matar.
  Você não sente e nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo que uma nova mudança em breve vai acontecer, e o que algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo e precisamos todos, todos rejuvenescer. Nunca mais eu convidei minha menina para correr no meu carro, loucuras, chiclete e som. Nunca mais você saiu às ruas em grupo reunido, o dedo e "v" cabelo ao vento, amor e flor, aquele cartaz... Onde estava escrito: "Nessa nossa vida de revolucionário a morte é um acidente freqüente” (Che Guevara) no presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais...
Mas eu não posso deixar de dizer meu amigo que uma mudança em breve vai acontecer... Já aconteceu comigo, pois eu já não sou mais o mesmo de antes... Hoje, o meu medo não é mais só de avião, e foi assim que eu segurei pela primeira vez a tua mão.
Já faz tanto tempo que eu estou longe de casa que até o meu blusão de couro já se estragou, e ouvi dizer no papo da rapaziada que aquele amigo que embarcou comigo, já se mandou, e a mulher que eu amei, não pode me seguir... Nesses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem. Até parece que foi ontem a minha mocidade, agora eu quero tudo, tudo outra vez, pois são as coisas dessa nossa vida tão cigana, caminhos como as linhas dessa mão, vontade de chegar e olhe eu chegando, e vem essa cigarra no peito, já querendo ir cantar em outro lugar, o que nos faz chorar e não apenas só os beijos de novela.
Diga lá meu coração da alegria de rever essa menina e abraçá-la e beijá-la. Diga lá meu coração conte as histórias das pessoas nas estradas dessa vida, chora essa saudade estrangulada, fale sem você não há mais nada, olhe bem dentro dos olhos da morena e veja lá no fundo o brilho daquela primavera, passe as mãos nos seus cabelos negros, diga um verso bem bonito e de novo vá embora.
Diga lá meu coração que ela está no meu peito e bem guardada e que é preciso, mas que nunca prosseguir... Espere por mim morena, espere que eu chego já, e de novo escute... Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando, coração na boca, peito aberto vou sagrando. São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando, e tudo o que eu cantar esteja certa que estarei vivendo, e se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso não se espantem cante que o teu canto é minha força para cantar.
   Enquanto isso da janela lateral, do quarto de dormir vejo uma igreja, um sinal de glória, vejo um muro branco e o vôo de um pássaro, vejo uma grade e um velho sinal. Mensageiro natural de coisas naturais, quando eu falava dessas cores mórbidas, quando eu fala desses homens sórdidos, quando eu falava desse temporal, você não escutou; mas isso é tão normal... Mas, saiba que é preciso saber olhar pela janela lateral, enxergar por outro ponto de vista, triste, porém real. Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores! Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve e como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora.
Ai, eu quero chegar antes para sinalizar o estar de cada coisa e não acredito que esse estado de coisas seja o único possível, quero filtrar seus graus. Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone e vendo doer à fome nos meninos que têm fome... Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela, quem é ela? Quem é ela? "Só me diga o que for bom"!!! Quero ir para casa, não vejo minhas coisas desde o começo de Abril, tem um relógio velho parado desde começo de Abril, tem uma menina que eu encontrei na estrada dizendo que volta comigo, para descansar da vida que agente escolheu.
Já chegou para mim o momento em que você levanta e acha que fez a primeira parte de tudo que queria, e agora chegou sua vez... De plantar raízes da terra de onde veio; tirando vida nova do chão, e logo você volta para estrada, para vê o que ainda não viu. Noite, à noite na semana o meu coração me chama para dizer que você regressou. Compadre meu, esse meu pressentimento não é coisa que o momento fabricou compadre... Quem já tem tanto dinheiro pode bem pensar primeiro na mulher, no filho e no amor. Nem posso ver, eu menino nessa idade respirando o que a cidade envenenou. Quero que você me faça um favor, já que agente não vai mais se encontrar, cante uma canção bem fácil de guardar.
Pois, apesar das minhas roupas rasgadas eu acredito que vou conseguir uma carona que me leve pelo menos à cidade mais próxima, aonde ninguém vai me olhar diferente, quando eu tocar na minha velha guitarra as canções que eu conheço. Eu tinha apenas dezessete anos no dia que sai de casa, e não “faz” mais que duas semanas, mas encontrei tantas pessoas tristes desaprendendo como conversar, e parece que eu estou carregando os pecados do mundo, e para superar canto uma canção bonita falando da vida em Ré maior, canto uma canção daquelas de filosofia e mundo bem melhor, canto uma canção que agüente essa paulada e agente bate o pé no chão, sem o compromisso estreito de falar perfeito, coerente ou não.
  Canto o que não silencia, é aonde principia a intuição. Com ou sem licença o sol rompe a barrada á noite sem pedir perdão, canto uma canção como Poema do Cazuza e do Frejat, minha canção. Faça uma lista de grande amigos, quem você mais via “há dez anos atrás”, quantos você ainda ver todos os dias, quantos você já não encontra mais, faço uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar, quantos amores jurados para sempre, quantos você conseguiu preservar.
Onde você se reconhece, na foto passada ou no espelho de agora. Hoje é do jeito que achou que seria? Quantos segredos que você guardava, hoje são bobo ninguém quer saber, quanta canção que você não cantava, hoje assobia para sobreviver "O que eu tenho dentro do meu coração, eu tenho guardado para te dá..." O fato é que agente perdeu toda aquela magia, a porta dos meus quinze anos não tem mais segredos, e velha, tão velha ficou nossa fotografia...
  Só sinto no ar o momento em que o copo está cheio e que já não dá mais para engolir, descobrindo que a solidão é fera, a solidão devora; é amiga das horas, prima, irmã do tempo e faz os nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração... Quando o navio finalmente alcançar a terra e o mastro da nossa bandeira se enterrar no chão, eu vou poder pegar na sua mão, falar de coisas que eu não disse ainda não, coisas do coração...
   Quando agente se tornar rima perfeita e assim virarmos de repente uma palavra só, igual ao nó que nunca se desfaz... Somos a resposta exata do que agente perguntou, entregue a um abraço que sufoca o próprio amor, cada um de nós é o resultado da união de duas mãos coladas em uma mesma direção; Coisas do coração. O que eu não posso é entender tanta gente aceitando a mentira de que os sonhos desfazem aquilo o que o padre falou.
Tenho vinte e cinco anos de sonhos e de sangue; e de América do sul, mas se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava de olhos abertos lhe direi amigo eu me desesperava. Mas, antes de tudo se acabe, eu, apenas queria que você soubesse que aquela alegria ainda está comigo e que minha ternura não ficou na estrada, não ficou no tempo preso na poeira,  eu apenas queria que você soubesse que esta menina hoje é uma mulher e que essa mulher é uma menina que colheu seu fruto, flor do seu carinho. Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta, que hoje eu me gosto muito mais também, e que a atitude de recomeçar é todo dia, toda hora, é se respeitar sua força e fé, se olhar bem fundo até o dedão do pé.




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