quinta-feira, 6 de outubro de 2011

VIDA CRÔNICA


O álcool que vivo, e a vida que bebo todos os dias não me fazem se quer conhecer o arrependimento de tudo o que deixei de fazer. As noites em claro, e os dias de sol; só me fazem entender que tudo às vezes é nada. E que nada nas mãos e nos bolsos podem ser o suficiente para nos livrar do flagrante. Degradante mesmo é saber que andar limpo, nem sempre é suficiente pra nos manter vivos. O mais engraçado é que tudo o que digo agora não passam de palavras pensadas; frases, que letra por letra se tornam palavras feitas e repetidas. Quando decidi levar essa vida eu sabia do risco de ficar pra trás, eles não suportam ninguém que pense ou que saiba existir. Busco no fundo de garrafas, e em olhares pelos corredores um jeitinho pra sorrir, um jeitinho pra combinar as palavras. 
Descobri na dor uma maneira para não sofrer por amor. Encontrei, em uma mesa você! Linda maravilhosa, e espumante me chamando para bailar, me chamando de meu bem eu não resisti e cai de boca, besteira não faz mal. Senti na ponta da língua a quentura do seu corpo, a frieza do teu beijo. Provei você! E você não era igual a todas que já passaram pelos meus lábios, você tinha alguma coisa de diferente, não sei o que era. Será que foi a vontade, o desejo, ou será que será o novo que estará por vir? Há alguns minutos, quando lhe deixei eu voltei pra casa pensando se você saberia viver sem mim, e que ser escroto é eu, pois no mesmo instante alguém parecido com você me encontrou e me convidou para irmos. 
O lugar era outro, o corpo era frio. Minha língua a provava e nem se lembrava de alguém que já ficou pra trás, mesmo sabendo que serão assim todos os dias. Em cada esquina, um olhar e um desejo, em cada esquina uma vontade diferente de lhe colocar na boca e provar você, até adormecer os dentes. Que vida é essa, quem eu era antes de você, meu Deus me ajude, meu senhor o que vou fazer, já sei, lembrei! O Raul já dizia quem pensa, pensa melhor parado, e eu completei dizendo, “e bebendo” (Quem pensa, pensa melhor parado e bebendo). Coincidência porque quando pensei isto, pensei em um momento raro da minha vida, pois eu estava bebendo. Existem algumas filosofias de boteco que diz, a gente só leva da vida o que come e o que bebe. 
Mentira, pois a cada copo a gente vai ao banheiro e logo tudo fica pra trás. Antigamente eu tinha o zelo por elas, mas aí conheci o Raul em uma dessas viagens, ele dizia que quem gosta de uma, logo vai gostar de todas, porque todas são iguais. No mesmo momento eu pensei e entendi o porquê a cada esquina, a cada bar eu esquecia todas que conhecia. E naquele momento, olhava pra sua boca me dizendo que tudo foi porque não me conhecia, mas e agora vendo você nesta mesa linda maravilhosa e pulsante só me dá vontade de me mostrar só pra você.