quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Com a Ponta do Dedo


Com a ponta do dedo eu escrevo o teu nome
Desenho o teu rosto, rabisco os teus sonhos.
Com a ponta do dedo eu te mando um beijo
E sonho...

Escrevo cartas e guardo
Escondo de mim no dia seguinte
São muito sinceras, poetas não amam.
Se amarem se tornam mortais

Com a ponta do dedo eu te acordo
Toco sua boca e rio
Prendo sua respiração

Com a ponta do dedo te escrevo
E falo da minha saudade
Com a ponta do dedo te faço sorri

Com a ponta do dedo eu me despeço
Mando um beijo
Aponto a direção

Com a ponta do dedo te mando um abraço
Falo da minha saudade
Apago as luzes e volto a dormi


Este poema é em especial a uma pessoa que
por muito tempo fez e faz e sempre fará parte da minha vida, principalmente dos melhores momentos dessa minha vida tão miúda.
JG281427.

Recomeçar nº2


Estou no trabalho, acordei tarde e antes de abrir os olhos eu pensei em tudo o que precisava lembrar. Lembrei-me de nós dois e daquelas tardes na sua casa , dos dias em que quase enlouquecíamos planejando o futuro. A minha barba já faz parte do meu rosto e a melancolia está em alta no meu gosto poético. Não quero ser patético, mas sinto muito a sua falta. É uma coisa incrível! Nós tínhamos o mesmo rosto, o mesmo gosto, nós éramos uma só pessoa. Você sempre foi o meu refugio, o meu altar; quando o mundo ameaçava desabar, eu corria pros teus braços e lá ficava até tudo se acalmar. Você sempre se fez forte, sempre te admirei e talvez eu nunca tenha dito isto, como também me calei em outras vezes diante das suas virtudes.
Estou tomando café, na verdade tenho tomado muito café. A tarde está fria, o ar me deixa congelado, tenho alguns afazeres, mas decidi voltar a escrever e quem sabe você até leia, mesmo sem me dá resposta. Sinto falta das pequenas coisas, penso no que devo mudar em mim enquanto caminho na rua.
Quando acordei, decidi reparar minhas asas e alçar voo, sair de mim por uns dias, buscar a fuga da realidade e recomeçar.
Não é fácil viver tudo de novo! Fazer as mesmas coisas, cometer os mesmos erros e viver outras alegrias. Você me disse que cada romance é algo especial, prefiro ficar com a idéia de que algo especial só existe uma vez. Você ainda continua sendo especial, alguém que me arrasou quando partiu. Confesso, nunca acreditei que minha literatura iria descer tanto ao ponto de ser melancólico e romancista de mais, sempre adorei o sarcasmo e acidez dos versos dos poetas malditos.
Também confesso que todo dia faço planos e leio muito, faço planos e tento respirar.
É estranho perder alguém, é muito difícil acreditar que o tudo agora é quase nada e “que nada nos protege de uma vida sem sentido”.
Deixa eu te confessar, comecei ontem a torcer pro seu time. Não tem graça vê-lo perder, se não tiver você por perto pra te zoar, pra te ver zangada comigo. Sempre gostei de te tirar do sério. Agora vivo mais sério, mais calado, menos otimista, mas ainda sou flamenguista.
Ontem senti muita febre durante a madrugada, a última vez que senti dor de ouvido, foi pra você que eu liguei e talvez você nem lembre, mas se lembrar obrigado. Nunca mais ouvi nossas músicas elas estão guardadas em uma pasta do meu computador que chamei de 28 de Junho, sei que vai entender.
Faltam poucos minutos pra sair do trabalho. Na volta pra casa me espremo na janela pra ver se vejo o seu rosto. Mais um dia e tudo se repete: acordo: tomo café da manhã, almoço na rua e venho para o trabalho. Escrevo e leio muito.
Dizem que um dia a gente ri muito de tudo o que foi tristeza, eu diria que não. Como diz o poeta “os ignorantes são mais felizes”.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Por Aí...


Escrevo como se escreve para eu mesmo ler. Em cada palavra as impressões da vida, das coisas pequenas, coisas que passam despercebidas todos os dias por milhões de pessoas. Hoje fui à livraria e quase comprei a biografia da Clarice, na verdade fui para comprar “O Diário de Um Combatente”, mas esbarrei com as maravilhas da Ucraniana. Tenho passado horas lendo cada palavra sua, vendo fotos e a imaginando nos dias de hoje. Estou ouvindo Humberto Gessinger, enquanto escrevo.
Fiz muitos planos esta semana, planos de mudar aquilo que já não me serve mais. Coisas em excesso que carreguei a vida toda, até que me serviram de pontes para que eu chegasse até aqui. Mas, se assim foram, já cumpriram o seu papel. Às vezes me falta coragem para dizer tudo o que penso e o que estou sentindo, converso comigo mesmo enquanto caminho para o trabalho. Lembrei-me do que não tenho conseguido esquecer, lembrei o quanto você é importante para mim. Lembro que era para você que eu ligava para contar as boas e as más novidades.
É estranho, mas eu mesmo me respondo, eu mesmo me debato em silêncio.
Hoje, uma conversa amiga me aliviou um pouco, me trouxe um pouco de paz. Estou melhorando, já consigo até sorrir. Mesmo que no fundo, no fundo eu quero que aquela conversa chegue até os seus ouvidos, e que depois o mesmo mensageiro me traga noticias boas. Quero saber o que você achou e o que pensou. Mas, não sinta pena, não me faça mal. Chove pouco, tudo está suspenso, nada me atrai.
Como será quando tudo isso passar, quando eu tiver na rua e me lembrar desses dias? Mas, volto a confessar, não quero que nada passe, quero tudo em carne viva. Tenho tantas coisas, “mas quando eu mais preciso, eu só tenho você.” Nada mais me serve, tudo é superficial, leve demais pra carregar. Vou jantar, estou muito magro e sem apetite. Na televisão as coisas são muito fáceis.

Bom, tudo o que posso fazer é continuar vivendo nesse meu mundinho, fazendo minhas coisas pequenas... Acordando, lendo muito e indo trabalhar. Minhas músicas estão mais tristes, só tenho ouvido o “Burguesia”, na verdade sempre gostei dele e do “Por Aí”. Acho que as pessoas só são verdadeiras quando estão por baixo, em baixa, no maior baixo astral.
Sexta feira eu vou ao cinema assistir o “Febre do Rato, dizem que é legal, também se não for não me faz mal, aliás, como diz o Renato “Hoje nada mais vai me ferir”. Incrível, como escrevo tão rápido, acho que é melhor assim você nunca vai lê mesmo, se lê não me irá dar resposta. Contudo, se cuida e tenta se manter limpa e honesta, nossa simetria é incrível, acho que foi o que nos uniu esses anos. Abraços preciso voltar aos estudos, agora vou ouvir Clara Nunes, eu sei que você gosta. Beijos.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Recomeçar - nº 1.




Agora antes de sair de casa, eu fecho os olhos e penso: preciso voltar
Dou cada passo de forma cautelosa, pra não me acidentar e não me perder no caminho
Ando nas ruas observando aquilo o que todo mundo vê, e o que ninguém vê eu fotografo e levo pra casa, faço molduras de papel reciclado.
Não faço nada que não esteja no mesmo roteiro, nada que altere meus dias e que me exponha ao ridículo.
Confessei ontem ao espelho que tinha medo, confessei, pois sei que ele nunca irá contar pra ninguém. Ninguém saberá que sou humano.
Ponho as mãos nos bolsos e saio, me protejo da chuva e do sol, evito ficar mais doente, evito perder noites de sono, evito perder tempo.
Escolho as músicas que ouço enquanto cozinho, enquanto fico deitado no ninho, fugindo do frio.
Aos poucos  fui me descobrindo uma pessoa solitária, uma pessoa com vocação pra sofrer, pra ficar em casa enquanto todo mundo está na rua fazendo da vida uma festa.
Não é que a vida não preste, é que hoje eu descobri que é preciso recomeçar
Tirar o pé da lama.
Inventar romances, inventar uma alegria, qualquer uma que me deixe mais vivo e que aos poucos, eu possa ir perdendo este meu semblante de morte.
E quem sabe talvez eu me descubra o sujeito mais forte, mais viril, alguém capaz de recomeçar quando todo mundo se desgastar e for pra puta que pariu?
Passo horas vendo TV, procurando noticias no computador, não tenho mais saco pra ficar no bate papo.
As pessoas não se mostram como são, fingem ser heróis, fingem ser amantes e na verdade só querem passar o tempo.
Mudei o meu papel de parede, pus um cara legal, que  tem otimismo. Tem força e tal.
As minhas roupas foram rasgando aos poucos, substituído quase tudo, apenas deixei a que ganhei de presente.
Não é mudar por ninguém, mudar por nada é mudar por mim.
É me ver além do que eu mesmo imagino, é recomeçar quando for preciso. E hoje, eu preciso voltar ao inicio, e dizer até mais.
Lembro de ontem, como se fosse hoje, mas não preciso repetir as palavras, os gestos banais de alguém, que em meio à loucura parecia incapaz de mudar, de recomeçar.
Então:
Todos os dias agora eu tomo café da manhã
Ponho um bom disco e danço até não querer mais
Depois vou pro banho e passo horas na ducha
Digo a verdade por telefone
Pouco me importa se faço as coisas na cara dura
Vou a sebo e compro livros e discos usados
Adoro ver as dedicatórias
Leio muito hoje, mas do que antes, mais do que preciso
Não nego, escondo o sorriso, não o dou a todo mundo
Não sei quem são meus inimigos
Perdi o bom censo e o equilíbrio
Procuro buscá-lo em outras filosofias
Ainda me falta um deus, alguém capaz de me dá fé
Comecei ontem a ouvir jazz
Passo horas olhando as variadas cartas que mandei
As juras de amor que fiz, e que hoje não sei aonde se foram
Vou trabalhar...
Recomecei um velho hábito
Perdi outros, encontrei antigos romances
Mas, não quero nenhum
Preciso de tempo, pra recomeçar
De sexo talvez, mas não dessa vez
Irei me doar
Ainda ouço o Clube da Esquina
Leio Drumond e Clarice Lispector
Mas prefiro o Pessoa e Kerouac
Não tenho manias
Tenho dinheiro
Um pouco talvez, mas dá pra ir ao cinema todas as sextas
Adoro beber  wihski, mas não bebo mais nada
Passo horas em casa vendo TV
Tenho outros amigos;
Todos parecem legais, alguns nem faço questão de encontrar e outros nem quero lembrar
Não tenho tesão em ir pras noites, ficar horas em pé de copo na mão
E tudo o que faço é recomeçar
Trilho novos caminhos, novos horizontes
Comecei a fazer planos pro futuro, antes nem isso eu fazia
Só perco tempo nos supermercados, olhando as mais diferentes embalagens de tomates
Nunca entendi o porquê, mas faço mesmo sem saber pra que.
Recentemente, comprei o disco do Caetano, não é tão legal
Prefiro os antigos, o "Transa e o Jóia".
O primeiro é antes do exílio e o outro depois,
Leio a biografia do Bob Dylan e do Ernesto Guevara
Decidi fazer minha primeira tatuagem
Será a capa do disco “Alucinação” do Belchior
Curiosamente, meus gostos musicais não se alteram
Descobri que eles são meu ponto de equilíbrio
Descobri muitas coisas
Descobri o quanto podemos ser forte
O quanto tudo pode ser lindo e maravilho; portanto, prefiro a realidade
Estou limpo, não uso drogas, apenas leio muito
Fujo da realidade, ela nunca me fez bem
E continuo dando passos até o fim da rua e lá
Sempre recordo que preciso voltar pra casa, e volto.

30 de julho de 2012.
Escrito em  Memorial Pontes de Miranda.